PRODUÇÃO A CAMPO

PRODUÇÃO A CAMPO
PRODUZIR UM BOM TERNEIRO VACA / ANO

Alternativas para aumentar a fertilidade pós-parto de bovinos

COMUNICADO
TÉCNICO
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Centro de Pesquisa de Pecuária dos Campos Sulbrasileiros
Ministério da Agricultura e do Abastecimento
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¹ Méd. Vet., Embrapa Pecuária Sul, Caixa Postal 242, CEP: 96400-970 Bagé RS.
ISSN 0100-8919
1 Carlos Miguel Jaume
1 Carlos José Hoff de Souza
1 José Carlos Ferrugem Moraes
Situação atual
Nos sistemas extensivos de criação de bovinos de corte no Rio Grande do Sul, os índices
de natalidade estão em torno de 60 %. A responsabilidade por esse baixo índice não é das
novilhas de primeiro serviço, nem das vacas secas que apresentam índices superiores a 75%,
mas das vacas com terneiro ao pé, enquanto adultas com taxas de gestação de 20 a 25% e
quando de primeira cria de 6 a 15%. Considerando uma taxa de mortalidade de 4% até um ano
de idade e o início da reprodução das novilhas com dois anos de idade, o produtor tem que
manter e cuidar na sua propriedade um total de 158 animais para produzir apenas 29 terneiros
machos para a venda. Análises econômicas revelam que o custo de produção de um terneiro
num rodeio com 70% de desmame é de 148 dólares. Este custo médio indica que a maior parte
dos produtores de terneiros estão com prejuízo na atividade de cria. Nesta situação, tendo em
conta a baixa rentabilidade da atividade como um todo, há necessidade de muita cautela na
recomendação de qualquer tecnologia que implique em aumento de custos.
O objetivo desse documento é de apresentar uma análise crítica da fertilidade pós-parto
de vacas de corte e algumas alternativas de baixo custo que podem aumentar a produtividade
de sistemas extensivos de criação.
Causas principais
A baixa taxa de natalidade nos rebanhos tem como principal causa o desequilíbrio na
taxa de lotação dos campos, associada as necessidades nutricionais variáveis dos animais de
acordo com seu estado fisiológico e a produção estacional de forragens. O crescimento do
campo nativo durante o inverno é muito menor que nas outras estações do ano. Isto não é
sempre acompanhado por uma redução na taxa de lotação da mesma magnitude nas pastagens
nativas da região, o que resulta em perda de peso dos animais.
nº 22, Junho/99, p.1-12
Ministério
e do Abastecimento
da Agricultura
Alternativas para aumentar a fertilidade pós-parto de bovinos
de corte em sistemas extensivos de criação
COMUNICADO TÉCNICO
Em condições naturais os animais selvagens acumulam gordura como substância de
reserva, durante as estações favoráveis, para ser utilizada na época desfavorável de pouco
alimento. Esta situação é semelhante a dos sistemas extensivos de produção, só que o homem
tem construído cercas, que limitam o acesso dos animais ao alimento, dificultando o acúmulo
de reservas corporais para o inverno. O produtor tem tentado, como é natural, tirar o máximo
proveito da área que dispõe, o que implica na maneira tradicional de enxergar as coisas, em
aumentar o número de animais criados nessa área. Por outro lado, tem arraigado os conceitos
de que vaca de cria gorda é um desperdício, pois poderiam caber mais animais na sua
propriedade e de que vaca gorda é aquela que vai para o abate. Em resumo, as vacas chegam ao
parto após o inverno em condições corporais insuficientes e depois do parto não recebem uma
alimentação suficiente para satisfazer as necessidades resultantes da lactação. Como
resultado disto os animais não manifestam cio e não ficam prenhes novamente na estação de
monta subseqüente.
Na Tabela 1 são apresentados resultados obtidos na América do Norte, com gado
Hereford, com respeito ao nível de alimentação fornecido aos animais antes e depois do parto. É
interessante notar a percentagem de animais que manifestam cio no nível nutricional baixo,
antes e depois do parto, que é semelhante a taxa de gestação observada em vacas adultas no
estado do Rio Grande do Sul, de 20 a 25%.
Tabela 1. Efeito do nível de energia fornecido as vacas antes e depois do parto sobre a
percentagem de animais manifestando cio em diferentes intervalos de tempo após o
parto.
Nível nutricional % de vacas em cio em diferentes intervalos pós-parto
50 dias 60 dias 70 dias 80 dias 90 dias
Alto-Alto 65 80 90 90 95
Alto-Baixo 76 81 81 86 86
Baixo-Alto 25 45 70 80 85
Baixo-Baixo 6 17 22 22 22
Fonte: Wiltbank et al. (1962) J. Anim. Sci. , 21:219.
Durante o último terço da gestação a alimentação da vaca vai estar direcionada ao feto,
pois durante este período é quando ocorre 60 % do seu crescimento. Se a vaca três meses
antes do parto apresentar baixa condição corporal, mesmo ganhando 0,5 kg de peso vivo por
dia até o parto, ainda continuará com baixa condição corporal, já que esse aumento de peso
será distribuído também entre o feto, o líquido amniótico e a placenta. Por outro lado, o
consumo voluntário de alimento do animal está limitado pela digestibilidade da matéria seca
consumida e pelo aumento de tamanho do útero, ocupando a maior parte da cavidade
abdominal do animal, que reduz a capacidade do rúmen em cerca de 30%. Tudo isto leva a
concluir que a vaca tem que ganhar as reservas corporais necessárias para enfrentar o inverno e
a perda de peso ao parto, durante o início da gestação, pois ao final, em campo nativo, é
impossível, já que coincide com o inverno.
Em sistemas extensivos sem pastagens melhoradas, reservas forrageiras ou ração
concentrada, a maneira mais barata de obter reservas de gordura nas vacas é que estas sejam
acumuladas durante o período de maior disponibilidade de forragem a primavera-verão-outono.
Nos sistemas extensivos é muito difícil que as vacas após o parto recebam forragem
suficiente para a satisfação de seus requerimentos nutricionais, estes aspectos ressaltam ainda
mais a importância do animal ter reservas corporais no pré-parto. Este quadro tem como
agravante o fato de que a vaca de cria é bastante sensível aos efeitos dos parasitos internos
durante a lactação.
CT/22, CPPSul, Jun/99, p.2
Medidas de baixo custo que podem ser tomadas para melhorar a taxa reprodutiva do rodeio
Como as condições de clima são variáveis de ano para ano e ao longo do ano, é
impossível pretender que todos os animais estejam nas mesmas condições nas mesmas
épocas. Uma receita única para incremento da fertilidade seria simplista demais. O que se
pretende aqui é enumerar algumas possibilidades que cada produtor pode utilizar de acordo
com as suas condições e necessidades, no entanto, fica a ressalva que todas devem ser
planejadas com antecedência e utilizadas sistematicamente.
Ajustes na lotação animal
Deve-se começar por um ajuste da taxa de lotação de acordo com a capacidade
produtiva do campo nativo disponível. Uma vaca de 450 kg de peso vivo necessita em torno de
A maior parte dos solos da região são deficientes em fósforo, mineral fundamental para a
reprodução e crescimento dos animais, portanto é importante que os animais disponham de
suplemento de sal mineral.
Na Tabela 2, são apresentados dados clássicos da América do Sul sobre o efeito do peso
ao parto de novilhas Hereford de três anos sobre o intervalo em dias do parto ao primeiro cio e a
taxa de gestação no segundo acasalamento, ilustrando a importância do planejamento e ajuste
de lotação nos sistemas de cria extensivos.
Tabela 2. Efeito do peso ao primeiro parto aos três anos de novilhas Hereford sobre o intervalo
parto-primeiro cio e a taxa de gestação ao segundo acasalamento de 100 dias de
duração.
Peso ao parto (Kg) 419 341 320 269
% gestação no 2º acasalamento 95 53 50 0
Fonte: Rovira (1969) Facultad de Agronomía. Estación Experimental Dr. M.A. Cassinoni.
o Boletín de Producción Animal N 2: 1.
Como pode ser observado nesta tabela, uma diferença de 78 kg de peso vivo ao primeiro
parto entre o grupo mais pesado e o seguinte, significou uma queda de 42% na taxa de
gestação ao segundo acasalamento que durou 100 dias, e que as vaquilhonas que parem muito
leves, simplesmente não tem chances de ficarem prenhes.
Diagnóstico de gestação
O diagnóstico de gestação é uma ferramenta fundamental para classificar o rebanho e
poder utilizar com mais eficiência os recursos forrageiros. A efetivação do diagnóstico de
gestação o mais cedo possível após o acasalamento, permite agilidade na tomada das decisões
com respeito ao futuro das vacas.
O diagnóstico de gestação permite a organização de diferentes conjuntos de animais,
visando um manejo diferenciado das vacas gestantes para otimizar o acúmulo de reservas
2.500 kg de matéria seca (M.S.) por ano de pastagem de boa qualidade. Durante o período
crítico de inverno a vaca estaria em fim de gestação, precisando em torno de 7 kg de M.S. por
dia. A eficiência estimada de consumo via pastejo da pastagem natural produzida é de 40%
(menos da metade do produzido seria consumido pelo animal). Sabendo qual a capacidade de
produção de M.S. da área disponível durante o inverno, podemos calcular o número de vacas
que podem ser colocadas por unidade de área. Se a produção durante o inverno fosse, por
exemplo, de 855 kg de M.S. por ha, numa área de 100 ha teríamos uma produção de M.S. de:
855 x 100 = 85.500 kg. Por dia, a produção seria de: 85.500 90 = 950. Com uma eficiência
de consumo da M.S. de 40 % os animais somente comeriam: (950 x 40 / 100) = 380 kg.
Assim, se cada vaca consome 7 kg de M.S. por dia, então: 380 / 7 = 54,2. Estes cálculos nos
indicariam que a área disponível seria suficiente para suportar apenas 54 vacas.
Intervalo parto 1º cio (dias) 85 120 107 164
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CT/22, CPPSul, Jun/99, p.3
corporais antes da chegada do inverno. Após o diagnóstico de gestação teremos os seguintes
grupos de animais:
a) novilhas vazias;
b) vacas vazias sem terneiro ao pé;
c) vacas vazias com terneiro ao pé;
d) vacas gestantes sem terneiro ao pé, em boas condições corporais;
e) vacas gestantes com terneiro ao pé, em boas condições corporais;
f) vacas gestantes sem terneiro ao pé magras (preferencial);
g) vacas gestantes com terneiro ao pé magras (preferencial);
h) novilhas gestantes (preferencial).
O destino dos animais dos grupo a) e b) dependerá das condições da propriedade em
termos do número de animais em cada grupo, da quantidade de alimento disponível e da
situação financeira do produtor. Haverá, portanto, possibilidade de vender todas, ou parte,
antes ou depois da engorda. Sob o ponto de vista da eficiência reprodutiva é importante o
descarte dos animais não gestantes, especialmente as novilhas que já possuíam peso corporal
suficiente ao início do acasalamento. É evidente que o produtor tem que considerar, também,
que aumentar a taxa de parição do rebanho implica num número menor de vacas de invernada
para venda, e para muitos, esta é uma fonte importante de receita, podendo acarretar
problemas transitórios de fluxo de caixa.
O destino das vacas do grupo c) vai depender de sua idade e interesse zootécnico, sendo
seu último terneiro na propriedade, possibilita sua venda após o desmame. Com os grupos d) e
e) basta manter a sua condição corporal, sabendo que as vacas com terneiro ao pé exigem uma
alimentação melhor que as que não estão lactando. No entanto, as vacas magras dos grupos f)
e g) devem ganhar peso rapidamente. Se as vacas ainda magras não chegam no inverno com
boa condição corporal, não terão condições para produzir um novo terneiro na estação de
monta subseqüente. No grupo g) uma possibilidade para ajudar a recuperação das reservas
corporais seria a desmama mais cedo, eliminando as exigências nutricionais adicionais
determinadas pela lactação.
As novilhas gestantes devem ser manejadas a parte do resto das vacas gestantes, já que
precisam de melhor alimentação para permitir que continuem seu desenvolvimento.
Será necessário, portanto, uma área reservada para as novilhas gestantes, e também
para as vacas gestantes que tenham que aumentar de peso antes de chegar no inverno, e outra
área reservada para as vacas logo após o parto, quando as exigências nutricionais aumentam
drasticamente com a lactação.
Manejo Nutricional
A reserva de áreas para utilização posterior deve visar o volume de pasto estocado e sua
qualidade. De nada adianta oferecer as vacas recém paridas um volume de pasto seco muito
grande se não possui nenhum valor nutritivo. Mesmo para vacas paridas no outono, que,
teoricamente, poderiam aproveitar melhor essa sobra de forragem suplementada com uréia,
apenas se consegue maior ganho de peso dos seus terneiros, sem incremento da taxa de
repetição de cria. É aconselhável, portanto, permitir um consumo a fundo no final do verão, e,
então, vedar essa área para acumular o crescimento das pastagens durante o outono - inverno
para se ter disponível um alimento de melhor qualidade quando as vacas tiverem cria. Essas
áreas de pasto reservadas, devem ser acompanhadas por ajustes de lotação que permitam aos
animais passar o período crítico do inverno em boas condições corporais, para isto é importante
planejar com antecedência a venda de animais de descarte.
Um outro aspecto interessante é buscar que as vacas satisfaçam as demandas nutritivas
causadas pela lactação, fazendo coincidir o parto com o período de crescimento mais ativo da
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CT/22, CPPSul, Jun/99, p.4
pastagem na primavera. Por esta razão é que a antecipação do acasalamento das novilhas não
pode ser exagerado, senão poderão parir na época mais crítica do inverno.
Em geral o que se deve tentar fazer é que as vacas ganhem peso o mais rapidamente
possível, desde antes do acasalamento para que estejam com boas condições de reservas
corporais, mantendo essa condição até o parto. As vacas que ganham peso durante o
acasalamento tem cios mais férteis e maiores possibilidades de ficarem gestantes (Tabela 3),
ou seja, é importante que as vacas acumulem reservas da primavera até o outono.
Tabela 3. Efeito do nível de energia fornecido as vacas antes e depois do parto sobre a taxa de
fertilidade cumulativa ao primeiro, segundo e terceiro serviço.
Nível alimentar Primeiro Serviço Segundo Serviço Terceiro Serviço
Alto-Alto 67 95 95
Alto-Baixo 42 74 84
Baixo-Alto 65 75 100
Baixo-Baixo 33 50 67
Fonte: Wiltbank, et al. (1962) J. Anim. Sci. , 21:219.
Neste contexto, é importante salientar que o produtor quando vê as vacas de cria gordas
no campo, imagina que está havendo desperdício de alimento, podendo colocar mais vacas na
mesma área. Em alguns casos pode estar certo. Mas isto acontece geralmente na época
favorável de crescimento das pastagens. Adicionalmente, há que se considerar o que para o
produtor é uma vaca em boa condição corporal, e outra, é o que uma vaca requer para ter um
bom desempenho reprodutivo. Muitas vezes o produtor considera que as vacas estão boas
porque tem um estado corporal que vai lhes permitir sobreviver o inverno, porém, além de
sobreviver, esses animais têm que parir, lactar e estar aptos para reproduzir na primavera-verão
subseqüente.
Por exemplo, se o produtor dispõe de 100 vacas gordas no início do inverno e consegue
que os animais não percam muito peso durante a lactação, pode obter uma taxa de gestação
acima de 85% no próximo acasalamento, ou seja, 85 terneiros. Em contraste, se coloca 120
vacas na mesma área e no inverno as vacas emagrecem excessivamente, na próxima estação
de acasalamento a taxa de gestação será em torno de 45%, ou seja, 54 terneiros. Será que as
100 vacas gordas eram mesmo um desperdício? Será que é bom negócio aumentar 20% o
número de vacas e reduzir em 40% a percentagem de terneiros nascidos? Uma outra opção
seria a de suplementar com alimento as 120 vacas para que não perdessem peso durante o
inverno e a lactação, com pastagem cultivada ou ração, porém, isso requer investimento. Há
que lembrar que para sistemas de criação extensivos, a suplementação alimentar mais barata é
aquela acumulada em forma de gordura no animal durante a época de abundância de pastagem.
Avaliação da condição corporal
Atualmente se utiliza uma escala subjetiva de condição corporal para descrever o estado
de gordura do animal, já que muitos produtores não possuem balança e, também, que duas
vacas podem ter o mesmo peso, porém uma é gorda e outra magra, dependendo de seu
tamanho. As partes do corpo que são consideradas para a classificação são os ossos da coluna
vertebral na altura dos rins, as costelas, as cadeiras, a inserção da cauda e a forma do quarto, se
escorrido ou mais arredondado. Uma escala de 1 a 5 é simples de ser aplicada e já foi
amplamente divulgada. Uma descrição simples dos escores é apresentada a seguir:
Escore 1: é para um animal magro, emaciado, que não tem gordura no corpo;
Escore 2: qualifica uma vaca com os ossos da coluna vertebral e as costelas bem
visíveis com pouca carne de cobertura, o mesmo quadro se verifica com
os ossos das pontas da cadeira, as fossas a cada lado da inserção da
cauda se apresentam bem marcadas e o quarto é estreito e escorrido;
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Escore 3: é para um animal que já apresenta alguma cobertura de carne na coluna
vertebral, costelas e cadeiras, porém com os ossos ainda visíveis e a
inserção da cauda ainda com uma fossa a cada lado da cauda;
Escore 4: caracteriza o animal que tem uma boa cobertura muscular dos ossos,
praticamente não se enxergam os ossos da coluna vertebral e costelas,
a inserção da cauda esta repleta de carne e o quarto arredondado;
Escore 5: é para um animal gordo no qual a estrutura óssea não é visível por estar
coberta de músculo e gordura, trata-se de uma vaca em condições de
ser abatida.
As vacas que parem na primavera geralmente apresentam pior condição corporal,
dependendo da severidade do inverno, que as paridas no outono, uma vez que o terço final da
gestação foi durante o maior período de crescimento das pastagens (Figura1). A maior parte
das vacas em primavera parem com condição corporal 2 e 3, insuficiente para um bom
desempenho reprodutivo. Em contraste, no outono, a maior parte das vacas apresenta uma
condição corporal boa, ou seja, com escores entre 4 e 5.
Fonte: Laboratório de Reprodução da Embrapa Pecuária Sul, dados não publicados.
A importância da condição corporal se reflete na atividade dos ovários das vacas, uma
vez que as vacas com melhor condição corporal possuem maior número de folículos nos ovários
(Figura 2) e uma maior incidência de folículos com mais 9 mm de diâmetro, que são os que
teriam condições de ovular (Figura 3). Em resumo, quanto maior for o escore de condição
corporal, maior é a atividade ovariana traduzida pelo maior número total de folículos e pelo
número de folículos grandes.
Fonte: Moraes J.C.F. et al. (1997) CONBRAVET (Suplemento) p. 45.
Figura 1. Efeito da época de parição sobre a
condição corporal das vacas ao parto
0
20
40
60
80
100
2 3 4 5
Condição corporal (1-5)
% de vacas
Primavera
Outono
Figura 2. Efeito da condição corporal da vaca sobre
a população folicular nos ovários
0
5
10
2 3 4 5
Condição corporal
Nº folículos
Fonte: Laboratório de Reprodução da Embrapa Pecuária Sul, dados não publicados.
Um outro aspecto relativo a importância da condição corporal é que também afeta a
incidência de manifestação de cio das vacas (Figura 4), refletindo a incidência de folículos
grandes nos ovários. Pode ser constatado nessa figura a grande diferença no percentual de cio
entre as vacas de escore 2 e as demais, indicando que não podemos esperar grandes respostas
de vacas com baixa condição corporal.
Fonte: Laboratório de Reprodução da Embrapa Pecuária Sul, dados não publicados.
O aspecto mais importante para o produtor de bovinos de corte, a taxa de prenhez após o
acasalamento (Figura 5), também é severamente reduzida quando as vacas apresentam
condição corporal inferior a escore 3.
Fonte: Laboratório de Reprodução da Embrapa Pecuária Sul, dados não publicados.
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Figura 4. Efeito da condição corporal sobre a
percentagem de vacas manifestando cio
0
20
40
60
80
100
2 3 4
Condição corporal
% cios
Figura 5. Freqüência de vacas prenhes de acordo
com a condição corporal na primavera e no outono
0
20
40
60
80
100
2 3 4
Condição corporal
% gestação
Primavera
Outono
Figura 3. Efeito da condição corporal da vaca sobre
a freqüência do número de folículos grandes (FG)
presentes nos ovários
0
0,2
0,4
0,6
0,8
2 3 4
Condição corporal
Nº médio de FG
De um modo geral, o uso desse sistema de escores permite uma melhor otimização do
orçamento forrageiro dentro de cada propriedade que deve visar vacas com escore 3, cerca de
60 dias pós-parto, o que certamente levará a melhores taxas de natalidade. De uma maneira
simples o manejo reprodutivo das vacas de cria deve considerar três situações:
Vacas com escore 5: apenas cuidar para que não percam peso;
Vacas com escore 2: no outono, proporcionar desmame dos terneiros em torno de
100 kg, proporcionando boas condições de alimentação para que essa vaca esteja
apta para a reprodução na próxima temporada reprodutiva; na primavera quando as
condições de pasto são favoráveis para ganho de peso rápido podendo ser tentadas
algumas práticas descritas no próximo item;
Vacas com escore 3 e 4: empregar práticas de desmame temporário e/ou precoce
associadas ou não a métodos de indução de ovulação, visando maior repetição de
cria.
Seleção por fertilidade
Um programa para melhorar a fertilidade do rebanho deve começar pela seleção das
novilhas. Isto deve-se ao fato de que, se forem incorporados animais subférteis ao rebanho, a
tendência é que a taxa geral de fertilidade se reduza. Evidentemente, a idade/peso ao primeiro
acasalamento deve ser considerada, no entanto, aquelas que ficam gestantes no início da
temporada são as mais férteis, pois necessitam um menor número de serviços. Sempre que a
taxa de reposição de vacas permitir, é interessante descartar as vaquilhonas que não pariram no
início da temporada juntamente com as falhadas. Ainda com respeito a seleção de novilhas, é
importante considerar o fator raça e, que animais azebuados são mais tardios.
A outra medida importante para aumentar a fertilidade do rebanho é o descarte das vacas
falhadas. Nem sempre esse procedimento é possível, pois quando a fertilidade é baixa implica
em redução do rebanho. Porém, a adoção progressiva desta medida determina taxas
crescentes de fertilidade e redução da oscilação anual do numero de vacas prenhes. Na Figura 6
é apresentado um exemplo de resposta de seleção por fertilidade num rebanho. Dois aspectos
devem ser salientados: a taxa média de gestação cresce lentamente e a partir do 5º ano há uma
menor variação entre anos, ou seja, reduz a alternância entre anos "bons" e anos "ruins",
característica da menor repetição de cria de vacas com terneiro ao pé.
Fonte: Laboratório de Reprodução da Embrapa Pecuária Sul, dados não publicados.
A medida que aumenta a taxa de gestação, duas novas situações surgem em termos de
seleção para manutenção do tamanho do rodeio de cria: seleção fenotípica prévia das novilhas e
descarte de vacas com terneiro ao pé que pariram no final da temporada reprodutiva,
procedimento que favorece também a redução do período de acasalamento.
O desmame
O momento no qual se realiza o desmame do terneiro, é uma das medidas de manejo que
mais influencia a taxa de fertilidade do rebanho bovino de corte. O desmame atua por duas vias,
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Figura 6. Taxa de prenhez em um rebanho Hereford
submetido a seleção por fertilidade
0
50
100
1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985
% prenhez
uma relativa a redução das exigências alimentares da vaca causadas pela lactação e a outra
pela retirada da presença do terneiro que bloqueia a secreção de hormônios responsáveis pelo
reinicio da atividade reprodutiva após o parto.
Frente ao problema do aumento dos requerimentos alimentares das vacas em lactação,
existem duas possibilidades: ou se aumenta a oferta de alimentos (isto implicaria em pastagens
melhoradas ou suplementação alimentar que exige recursos financeiros), ou se reduzem os
requerimentos. As alternativas seriam pela redução da lotação ou pela redução do período de
máximas exigências do animal, ou seja, encurtando sua lactação. O criador que tem uma taxa
de fertilidade em torno de 50 - 60% (indicativo de lotação acima da taxa de suporte da sua
propriedade), o desmame mais cedo ajudaria a reduzir a superlotação e aumentaria a taxa de
fertilidade do seu rebanho. Já para o criador que tem níveis de fertilidade acima de 85%, o
desmame precoce é uma maneira para aumentar a carga animal e ter maior número de vacas de
cria na sua propriedade.
Nas condições de pastagem nativa, as vacas secas tem condições de ganharem 0,6 - 0,8
kg ou até mais, por dia durante o período verão - outono, isto implica em um ganho de peso vivo
de 18 - 24 kg, por mês que se antecipe o desmame. O desenvolvimento do terneiro depois dos
90 dias de vida não depende exclusivamente do leite da mãe, dependendo cada vez mais do
alimento fornecido. Se a lactação for interrompida aos 4 - 5 meses, teremos poupado as vacas
em 2 - 3 meses de lactação comparado com o sistema tradicional de desmame aos 7 meses de
idade. Isto significa que as vacas chegam a época de desmame tradicional com 36 - 72 Kg de
peso vivo a mais, o que pode representar a diferença entre uma taxa de gestação de 45% e
85%, só que se manifestará apenas no ano seguinte. Esta medida de manejo também exige que
se tenha pelo menos reserva de pasto novo de boa qualidade para os terneiros desmamados.
Quanto mais cedo for realizado o desmame melhor será para as vacas, que sofrerão
menor desgaste pela lactação e terão mais tempo para acumular reservas corporais antes do
próximo inverno, propiciando cio na estação seguinte. Os trabalhos realizados na Embrapa
Pecuária Sul indicam que nas vacas com condição corporal 2 (pobre) no outono, a taxa de
gestação não ultrapassa a 20% (Figura 5), ou seja, nesse nível nutricional este tipo de animal
não responde a qualquer tipo de tratamento para estimular a manifestação do cio pós-parto.
Quanto maior for a antecipação do desmame, menores serão as exigências nutricionais
totais, por ano, das vacas, portanto poderá haver um aumento no número de vacas de cria. No
entanto, maiores deverão ser os cuidados dispensados aos terneiros. Assim, o desmame
praticado aos 60 - 75 dias pós-parto tem impacto sobre o número de terneiros desmamados,
porém requer investimentos e cuidados especiais na alimentação destes.
Uma alternativa para o desmame precoce, que não requer maiores investimentos e pode
ser utilizada por alguns produtores é a amamentação dos terneiros uma só vez por dia. Esse
sistema requer um potreiro pequeno onde deixar os terneiros e outro para as vacas, implicando
apenas em levar as vacas aos terneiros uma vez por dia. A primeira vista aparenta ser um
processo difícil, porém é semelhante ao manejo que se faz com as vacas leiteiras da fazenda.
Nos primeiros dias de uso, a técnica requer um pouco mais de mão de obra, no entanto, em
poucos dias os animais se acostumam. Os terneiros depois de mamar dormem e as vacas
voltam ao pasto para comer. Em grupos grandes de animais e em tempo muito chuvoso, o
pisoteio e doenças infeciosas nos terneiros podem ocasionar dificuldades no uso dessa técnica.
Outra medida que pode ser implementada para que as vacas manifestem cio mais cedo
após o parto é o desmame temporário. Os resultados experimentais obtidos com desmame
temporário tem sido pouco consistentes, porque são afetados pela interação de vários fatores
tais como as reservas corporais da vaca, a estação do ano, o nível alimentar das vacas, o
número de dias depois do parto quando se aplica o desmame, o número de dias do desmame
temporário e o tipo de desmame (se os terneiros são separados das vacas ou utiliza-se a
tabuleta). A maior parte dos trabalhos não consideram todos estes fatores. Ultimamente tem
sido determinado que a presença do próprio terneiro é o principal fator que inibe o mecanismo
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CT/22, CPPSul, Jun/99, p.9
da manifestação de cio após o parto. Assim, em uma vaca amamentando outro terneiro que não
o próprio, a inibição não se manifesta, sendo, portanto, uma alternativa para o desmame
temporário com separação física do terneiro, a troca de terneiros. Quanto ao momento da
realização do desmame temporário é importante que seja realizado com tempo suficiente após o
parto para a vaca responder ao tratamento. Nossos estudos visando antecipar para a 3ª semana
pós-parto não indicam bons resultados. O momento mais indicado parece ser em torno de 60
dias pós-parto.
Como já salientado, o desmame é um dos procedimentos, que tem pouco efeito nos dois
extremos de condição corporal dos animais, se as vacas estão gordas, ou excessivamente
magras. As gordas porque a despeito de qualquer prática para intensificação reprodutiva,
devem entrar em cio cedo após o parto. No outro extremo, com as vacas magras, com condição
corporal 2, pode não adiantar fazer o desmame, em função da época do ano, momento do parto
e duração do período de acasalamento.
Duração do período de acasalamento
A maioria dos produtores utiliza um período de acasalamento de no mínimo 90 dias nos
seus rebanhos. Esta duração do acasalamento trabalha contra o produtor, no que diz respeito a
taxa reprodutiva do rebanho. O argumento para isto é fisiológico da própria vaca. A duração da
gestação na vaca é de nove meses e meio e as possibilidades de mudanças na duração da
gestação são pequenas. O útero da vaca precisa de um certo tempo após o parto para voltar ao
seu tamanho normal, restabelecendo suas características fisiológicas para a fertilização e uma
nova gestação. Este período é de no mínimo 30 dias. Então, somando a gestação que é de nove
meses e meio, e um mês de tempo para o útero voltar a condições razoáveis para nova
gestação, temos dez meses e meio. Dos 12 meses do ano restam apenas um mês e meio, caso
o objetivo pretendido seja de um terneiro por vaca por ano (100% de taxa de gestação). Neste
contexto, a estação de monta não pode ser maior do que 45 dias. A medida que aumenta a
duração do acasalamento, a probabilidade de taxa de gestação máxima diminui, já não sendo
possível os 100% de taxa de gestação, porque as vacas estarão ainda parindo durante a
estação de monta. As últimas a parir terão menos tempo para recuperar seu útero e ficar
gestantes antes que termine o acasalamento (Tabela 4), e o pico das lactações acontecerão no
período onde geralmente acontecem secas e temperaturas elevadas, o que afeta
negativamente a manifestação de cio nas vacas.
Tabela 4. Comparação das épocas de entoure e de nascimentos, entre o acasalamento de
90 e 45 dias.
Meses Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan.
Acasalamento 90 dias (01/nov-31/Jan) XXXX XXXX XXXX
Nascimentos 10/Ago-09/Nov) XXX XXXX XXXX XX
Acasalamentos 45 dias (01/Nov-15/Dez) XXXX XX
Nascimentos (10/Ago-23/Set) XXX XXX
X = 1 semana
Numa estação de monta de 45 dias todas as vacas vão parir antes do início da próxima
estação de monta, além disso, todas as vacas já estarão com o útero em condições de gestar
pelo menos uma semana antes de começar a estação de monta. A redução da estação de
monta e a antecipação do desmame são as duas ferramentas de manejo mais poderosas que o
produtor pode aplicar no seu rebanho para aumentar a taxa de fertilidade, sem aumentar os
seus custos de produção. No entanto, o emprego dessas medidas deve ser gradual com
planejamento anual prévio.
COMUNICADO TÉCNICO
CT/22, CPPSul, Jun/99, p.10
Formação de grupos de vacas em função da data do parto
Primeiramente convém dividir as vacas em função da data do parto em pelo menos três
lotes, contendo o primeiro, segundo e último terço. As vacas que compõem o grupo que pariu
por último é o mais difícil de emprenhar, uma vez que terão menos tempo junto aos touros
após o parto e menos tempo de repouso. Neste grupo, as vacas que não estiverem gordas tem
baixa probabilidade de manifestar cio e serem inseminadas antes de terminar o acasalamento.
Quando esse grupo é pequeno, ou menor do que o número de vaquilhonas de reposição, essas
vacas podem criar seu último terneiro na propriedade e após o desmame serem vendidas.
Quando o grupo é numeroso convém classificar por idade - as vacas velhas também criam seu
último terneiro e as vacas mais novas são acasaladas - considerando suas condições corporais.
As vacas de primeira cria são as mais problemáticas, visando a repetição de cria. Como já
mencionado devem ser manejadas como um grupo separado, antecipando o acasalamento
duas a quatro semanas antes da data do acasalamento normal, permitindo um tempo maior
para recuperação no período pós-parto.
Efeito touro
Um fator que estimula a apresentação de cios das vacas após o parto é a presença de
touros. Quanto mais cedo após o parto tenham contato com o touro, mais cedo entrarão em
cio. Na Figura 7 é apresentada a incidência semanal de cios em rebanhos com condição
semelhante em função da presença ou não dos touros. É possível o uso de machos
vasectomizados (rufiões), ou novilhos tratados com testosterona (hormônio masculino), caso
não se deseje gestações antes do tempo, porém é fundamental que o macho esteja em contato
permanente com as vacas. No início previsto da estação de monta se trocam os rufiões por
touros previamente avaliados quanto a sua fertilidade potencial.
Fonte:Zalesky et al (1984) J. Anim. Sci. 59: 1135.
Recomendações
Antes de lançar mão de técnicas mais sofisticadas tais como suplementação alimentar,
sincronização e indução de cios, existem diversas tecnologias simples e de baixíssimo custo
que podem promover melhoras substanciais na fertilidade de rebanhos de corte criados
extensivamente. A seguir é apresentada uma lista dessas técnicas que podem ser usadas em
diferentes condições de ambiente e infra-estrutura:
1) Efetuar ajustes de lotação necessários a área disponível, reservando potreiros
para fornecimento de alimentação diferenciada para categorias mais exigentes;
2) Efetuar controle sanitário adequado dos animais e fornecer suplementação mineral,
especialmente uma fonte de fósforo;
COMUNICADO TÉCNICO
CT/22, CPPSul, Jun/99, p.11
Figura 7. Efeito da introdução de touros junto com
as vacas no início da estação dos partos ou 7
semanas depois
0
20
40
60
80
100
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Semanas
% cio
COM TOURO
SEM TOURO
3) Acasalar as novilhas duas a quatro semanas antes do período normal de
acasalamento, eliminando as que não ficam prenhes;
4) Manejar as novilhas prenhes separadas do resto das vacas prenhes, considerando
suas maiores exigências, relativas a crescimento e gestação;
5) Realizar o diagnóstico de gestação o mais cedo possível após o acasalamento,
facilitando a racionalização dos recursos forrageiros disponíveis de acordo com as
necessidades dos animais;
6) Eliminar o maior número possível de vacas falhadas;
7) Desmamar o mais cedo possível para reduzir as exigências nutricionais das vacas,
aumentando as reservas corporais até o próximo parto, viabilizando aumento de
peso no início da gestação que resulta em acúmulo de reservas corporais;
8) Formar lotes de vacas em função das datas de parto (de duas ou de três
semanas), facilitando o conhecimento dos animais e procedimentos de descarte;
9) Em caso de disponibilidade de vaquilhonas de reposição, descartar
preferencialmente as vacas do último lote de parição;
10) Com a melhora na condição corporal das vacas, encurtar progressivamente a
duração do acasalamento;
11) Aplicar os recursos de desmame temporário em função das peculiaridades e
necessidades de cada rebanho;
12) Utilizar o efeito touro como fator de antecipação do primeiro cio fértil.
NOTA:
Salvo alguns resultados de trabalhos clássicos publicados na literatura, a maior parte dos
dados apresentados na presente publicação foram obtidos no Centro de Pesquisa de Pecuária
dos Campos Sulbrasileiros da Embrapa. Qualquer informação necessária referente aos dados,
favor entrar em contato com os autores.
COMUNICADO TÉCNICO
CT/22, CPPSul, Jun/99, p.12